Contato imediato de 1o grau

Catarina Catão
2 min readJul 12, 2021

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Desde 2003 que converso com minha mãe através da internet. Desde esse ano que ela mora noutro país. Passei 4 anos sem poder vê-la pessoalmente e sempre precisava ir numa lunhouse pra fazer uma chamada no MSN. Depois dos smartphones e aplicativos de mensagens instantâneas Td mudou. Pra falar com ela Td ficou facilitado, ela é uma pessoa que consigo manter conexão através da internet, me ajuda a estar “mais perto” já que ela está do outro lado do oceano. Nesse caso, acho muito digno a internet facilitar essa minha conexão com ela, que há tanto tempo mantemos essa relação de distância-proximidade, o laço sanguíneo e materno nunca se quebrou mesmo com as distâncias e dificuldades de acesso à conexão.

Noutros casos, em que mantenho relações de amizades em que mal conheço as pessoas pessoalmente, pouco entendo seus anseios e cotidiano, não consigo me manter conectada realmente a elas, converso e falo pelas redes mas enquanto não as encontro pessoalmente sinto um vazio gigantesco em nossa relação. Parece que há um abismo entre mim e a pessoa que mal vejo nos meus dias. Parece que não há conexão, parece que ela nem existiu, pois ficou tudo superficialmente criado e construído, como uma nanopelícula de conexão. Sinto q mal existo, pois o meu viver pouco fez parte do viver daquela pessoa e isso torna a relação fria como a tela do celular, não há vida nessas relações, não há calor, não há quase nada, só um vazio de abismo holográfico construído pelas redes que conectam os abismos uns aos outros e não vão além de alucinações da vida irreal

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Catarina Catão

Artista visual em escritas figurativas dos paradoxos existenciais